sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Dentro da Mochila - O Eternauta

"Era de madrugada, apenas las tres. No había una luz en las casas de la vecindad[....] [...de pronto un crujido, un crujido en la silla enfrente mio, la silla que siempre ocupan los que vienen a charlar conmigo...]"
Depois de mais de meio século chega ao Brasil o primor da HQ argentina, O Eternauta de Héctor Germán Oesterheld(1919-1977) e Francisco Solano López(1928–2011), que simplesmente fizeram, na minha opinião, uma das melhores histórias em quadrinhos da América Latina, junto com o brasileiro Solar, de Wellington Srbek e Rubens Lima.
A primeira edição da editora Martins Fontes abrange a primeira fase da tira, publicada entre 1957 e 1959. A HQ enfoca Juan Salvo e seus amigos tentando resistir a invasão alienígena que mata quase toda a cidade de Buenos Aires. A invasão é precedida por uma espécie de neve tóxica - o que mata a maior parte da vida existente - que cai incessantemente. Os personagens centrais logo se organizam para sobreviver a provação, fazendo roupas ambientais para sair da proteção da casa e se embrenhar pela neve mortal para buscar materiais necessários. Durante essas viagens encontram Pablo, garoto de doze anos de idade, e percebem que os sobreviventes, carentes ou enlouquecidos, tornaram-se uma ameaça tão letal quanto a neve. Os militares que restaram recrutam civis para formar uma resistência aos invasores da Terra, que usam cada espécie derrotada em um contingente da força conquistadora - insetos gigantes, animais gigantes capazes de colocar edifícios abaixo, e até mesmo companheiros que foram capturados controlados remotamente através dos implantes chamados dispositivos medo comandada e criaturas que permanecem escondidas, controlando tudo a distância - comandados pelas criaturas conhecidas como "mãos". . Mas a história realmente só começa quando Salvo e seus companheiros conseguem tomar uma das naves alienígenas e acidentalmente acionam um mecanismo de viagem temporal deixando-os perdidos por diferentes continuums temporais, um desesperadamente buscando o outro.Além da pungente tenacidade dramática que colocava a obra anos a frente da revolução psicológica/social das HQs dos anos 1970, Oesterheld usava muito bem o subterfúgio da ficção.Um dos trabalhos da ficção científica é fazer alusão aos eventos da sociedade real, portanto, a HQ é um marco argentino, originalmente publicada entre 1957 e 1959 na revista Hora Cero, misturando ficção científica e crítica política. A crítica forçou López a se mudar para a Espanha no final da década de 50, indo depois para Londres onde trabalhou com editoras inglesas fazendo quadrinhos de ficção científica e guerra. Acabando por retornar a sua Argentina natal, em 1976 onde retomou a parceria com Oesterheld para fazerem uma segunda parte para a história do Eternauta.
                                                          Grafite nas ruas de Buenos Aires A parceria não durou muito Oesterheld, devido quadrinhos críticos ao governo e por sua participação no grupo guerrilheiro Montoneros, foi preso e morto pela junta militar que governava o país,transformando o roteirista em um dos muitos desaparecidos políticos criados pela ditadura militar. López refugiou-se mais uma no velho mundo, onde continuou a publicar O Eternauta através de editoras italianas.Com a amenização política retorna a Argentina , onde retoma carreira e cria suas próprias HQ ou colabora com roteiristas locais como Ricardo Barreiro. O Brasil também serviu de lar para o desenhista original do Eternauta, onde publicou um único álbum: Sangue Bom, com Allan Alex e Carlos Patati.Em 2007, durante as comemorações dos 50 anos do Eternauta, já uma vertente cultural própria,
                                                 Cartaz falso do filme não realizado do Eternauta recebeu prêmios na Argentina, na Espanha e na Itália. Francisco Solano López morreu em Agosto de 2011, após um AVC e muito tempo de debilitação. A editora Martins Fontes dá a oportunidade ao leitor brasileiro de conhecer esta primeira fase de O Eternauta, considerada a mais importante. A obra ganhou vários segmentos ao longo das décadas, chegando a ganhar uma peça de teatro,, programas de rádio e há tempos está em vias de ter uma adaptação para o cinema produção que no momento está parada, apenas com um teste de efeitos visuais produzido pelo estúdio argentino Shango, onde podem ser vistos a neve mortal e as naves alienígenas sobrevoando Buenos Aires:
A Martins Fontes promete a publicação há alguns anos, seu O Eternauta tem formato 28 x 22 cm, com 360 páginas, pelo preço R$ 69,80, é um clássico dos quadrinhos argentinos e mundiais. A edição brasileira tem prefácio do jornalista Paulo Ramos (Blog dos Quadrinhos).
Até mais e que a força esteja com você.

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