terça-feira, 22 de março de 2011

Verbum - O poder da palavra


           Quando me refiro ao poder da palavra, não estou me referindo à palavra de Deus ou de Jesus Cristo, mas a do Homem. Pois nossa palavra tem um poder muito maior do que a maioria possa imaginar, aliás, muitas vezes a usamos sem a plena consciência de seu poder.

           Uma prova disso é, conforme as gerações, mudarmos as denominações que damos às coisas. Certa vez, conversando com uma senhora de mais idade, mãe de um amigo meu, ela me contou que antigamente as pessoas “pegavam as crianças pra criar”, agora, “eles adotam elas”. Naquele momento, lembrei-me de minha mãe que foi “criada” por sua madrinha, e que, na verdade, ela era tratada tal qual a denominação da palavra “uma criada”. Logo, se a palavra mudou para “filho adotivo”, agregando-o ao meio familiar, é porque houve uma mudança de mentalidade e aquela antiga denominação já não cabia mais ao cotidiano.
           Há outras palavras que caíram em desuso, como manicômio ou hospício, para “casa de repouso” “casa de recuperação mental”; o mesmo fenômeno aplica-se ao asilo, que agora é lar de idosos, orfanato, lar de menores etc.
           A questão é que o estereótipo, aquela imagem anterior carregada pela palavra, tem de ser revista. Algumas, no entanto, são polêmicas, como designar negros de afro-descendentes ou homossexuais por homoafetivos. Aí, adentramos em questões ideológicas e identitárias, talvez por vivermos um estágio intermediário em que só o tempo definirá qual a denominação menos “ofensiva”. Em se tratando de denominações identitárias, há, ainda, tratamentos só aceitos como não ofensivos por iguais, como dois amigos de óculos um chamar ao outro de "quatro-olhos" (para não citar outros casos).
           A palavra também tem um peso social muito forte. Existem, inclusive, listas em forma de piada sobre diferenças entre rico e pobre, daquelas do tipo “rico não faz puxado na casa, constrói anexo; rico não tem pereba, tem dermatite etc.”. Muitas, nomenclaturas, é claro, de cunho extremamente preconceituoso, que produzem o significado à palavra e ela, assim, passa a ter valor.
           Outro caso interessante é a mudança de nomes dos lugares, quando o espaço é palco de um evento trágico ou repugnante, como a Rua do Arvoredo, em Porto Alegre, atual Rua Fernando Machado, local onde foi vendida a famosa linguiça humana, no séc. XIX. Sem falar em Auschwitz, que hoje é Oswiecim (não preciso nem dizer o porquê de esse lugar ter mudado de nome). Aliás, a Polônia, logo que recuperou seu território e também tomou outros da Alemanha, a primeira coisa que fez foi mudar os nomes das cidades. Isso é algo comum, uma vez que, mudado o nome do lugar, perde-se parte da história e da identidade do povo subjugado.
           Em falar de dominação territorial, lembrei-me da dominação cultural. Por que, afinal de contas, vamos ao Shopping Center e não ao Centro Comercial? São tantos exemplos, muitos esdrúxulos, que considero melhor nem me adentrar nessa parte. Por isso, seja consciente das palavras que você usa, preste atenão ao uso demasiado de estrangeirismos e, mesmo que eu não tenha abordado neste comentário a importância do nome das pessoas em sua vida, atente quando for nomear seu filho, pois o nome também é uma palavra.

Um comentário: