sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Verbum - Cultura do Pub: Breve ensaio sobre o álcool e o escrever


Enquanto a Europa mediterrânea (França, Itália e Espanha) se especializou na produção de uvas e vinhos, as regiões mais frias do norte se mostraram mais interessadas na cevada e no lúpulo, dois ingredientes básicos da bem dita cerveja, é claro. Não obstante, atualmente infelizmente a cultura de Pub está em declínio na Inglaterra, lugar onde a mesma sempre foi um huge success (grande sucesso). A tão conhecida e criticada crise econômica e a redução no consumo de cerveja fazem com que cerca de 37 pubs fechem as portas por semana no império onde o sol nunca se põe.
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Na Inglaterra sob colonização romana (55 a.C a 410 d.C), as bebidas eram servidas em estabelecimentos às margens das estradas, em que os viajantes descansavam após suas longas viagens a pé ou a cavalo. Assim nasceram os pubs, uma abreviação de public houses (casas públicas, em inglês). Mais tarde, foi nessas tavernas que grandes escritores redigiram suas peças e romances – e, evidentemente, encheram a cara. ”Uma caneca de cerveja é um prato de rei”, escreveu o sábio William Shakespeare (1564-1616) na peça Conto de Inverno. Já o seu contemporâneo português, também um pé de cana, Luis de Camões preferia os vinhos e nunca citou a bebida de cevada em suas obras. Um marco para a literatura de boteco é o livro Os Contos de Canterbury, de Geoffrei Chaucer, foi escrito no fim do século XIV e é uma das obras inaugurais da literatura inglesa, ainda que escrita em um inglês arcaico. Narra o encontro entre peregrinos em uma hospedaria. Eles bebem e contam suas histórias (o que me faz lembrar do sapiente clássico brasileiro Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo). “Bebamos! nem um canto de saudade! Morrem na embriaguez da vida as dores! Que importam sonhos, ilusões desfeitas? Fenecem como as flores!” Escreveu José Bonifácio, poeta brasileiro do fim do século XVIII. Em muitas das imagens criadas sensorialmente pelos autores, especialmente o último, o ambiente é alegre, compartilhado, vívido e ao mesmo tempo muito nostálgico - características de um Pub.


O escritor Charles Dickens (1812-1870) situou parte do romance Nosso Amigo Comum no pub Trafalgar Tavern, em Greenwich, Londres, frequentado por ele e em funcionamento até hoje. Ao longo dos séculos, esses estabelecimentos se firmaram como centro da cultura da vida comunitária, um abrigo quente e divertido para combater a solidão do morar só, o frio do rigoroso inverno europeu e, ainda ser um escritório informal para fechar negócios ou até mesmo um lugar para comer um engordativo fish and chips (peixe empanado com batata frita) e, por que não uma sala de estar para discutir literatura, filosofia, poesia, esportes e a vida?! Infelizmente, os pubs ingleses veem fechando. Toda semana, em média, 37 pubs fecham na Inglaterra. Em 1871, havia um pub para cada grupo de 201 ingleses. Hoje, a proporção é de 1 para cada 1061 habitantes.

                Sem público e sem dinheiro para pagar o salário dos empregados, os taverneiros, antes amados e sinônimo de confiança estão vendendo seus imóveis para que deem lugar a residências, lojas ou simplesmente fiquem vazios à espera de um novo comprador. A economia vai mal, leis antifumo e mudanças nos hábitos de consumo de bebidas são as principais razões para o fechamento desses palácios de entretenimento e beberagem. A temida inflação nesses últimos quatro anos reduziu o poder de compra dos ingleses, que preferem, agora, economizar comprando suas cervejas no supermercado, uma vez que saem mais baratas do que ir ao pub mais próximo. Bad times... O que agrava a coisa é que o fator financeiro somou-se à insatisfação dos fumantes, que desde 2007 são proibidos de dar suas baforadas no interior de pubs, casas noturnas e restaurantes. Só lhes é permitido satisfazer o vício na rua, na calçada, sob temperaturas congelantes. Quem visitava um pub sempre saía defumado pela fumaça, logicamente, e ainda escutava, quando não entoava, canções dos bêbados de praxe, quer coisa mais bonita?! Hoje, os fumantes têm de se excluir, tomar a cervejinha, sem as discussões e cantorias dos bêbados ao lado, enquanto fumam seu palheiro. Tristes tempos para a humanidade, logo não haverá mais alegria na simplicidade da vida, tampouco na complexa. Aos pouco o chatismo vai tomando conta do mundo já há muito quadrado.

             Nos séculos XIX e XX, os pubs sofreram com a construção de uma vasta malha ferroviária, de repente, os que funcionavam em beira de estradas se viram no lugar errado e, nas cidades, com o surgimento de novas formas de divertimento, como restaurantes com menu ao estilo francês e o tão popular cinema (que vem se tornando uma arte repetitiva e infeliz, na minha opinião artística desconstrutiva). Mais recentemente, passaram a enfrentar também a concorrência a seu principal produto: a cerveja. Em 1975, a bebida de cevada representava mais de 60% do consumo de álcool na Inglaterra. Hoje esse índice é de 40%. No mesmo período, o vinho aumentou sua participação de 10% para 30% (malditos franceses!). Para se adaptarem aos novos tempos, muitos estabelecimentos acrescentaram uma grande variedade de bebida no cardápio, incluindo o italianíssimo cappuccino, e passaram a servir pratos das culinárias tailandesa, indiana ou italiana. São os chamados gastropubs. Recentemente, o governo aprovou uma lei que permite a venda de cerveja em copos de diferentes tamanhos e não apenas nas tradicionais medidas pint (568 mililitros) e half-pint (284 mililitros). O objetivo é atrair a clientela feminina que, em geral, prefere copos menores.  
                Leis como essas são estimuladas pelo lobby dos pubs, formado principalmente por donos de bares e por pequenos fabricantes de cerveja. Estes temem ir à falência se não tiverem onde vender suas bebidas artesanais, não pasteurizadas e servidas à temperatura ambiente, chamadas de real ale. Há, na Inglaterra, 2 mil marcas diferentes de cerveja. Se os pubs fecham, também fecham, por conseqüência, muitas dessas fábricas. Triste, não?! É triste porque em todo pub tradicional da Grã-Bretanha há um sino na parede e quando toca pela primeira vez é porque chegou o momento de pedir a última rodada. Na segunda é a hora de fechar as portas e ir para casa. E, como bons amantes da diversão pudica, das discussões emblemáticas e da boa cerveja, sabemos que o sino não pode parar. The show must go on!        

Um comentário:

  1. Só na Inglaterra mesmo as mulheres preferem copos menores!
    Vida longa à cerveja! o/

    Jéssica.

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